Mundos fantásticos

A nossa perceiçom tem a curiosa capacidade de assimilar o tempo passado (que, nom esqueçamos , já nom existe), a um mundo fantástico.

As histórias de heroes, as guerras, as descobertas e os milagres chegam a nós como romances e filmes de ficçom, cheias de impossíveis e de maravilhas.
Mesmo as vidas dos nossos maiores e as lembranças da nossa infáncia vam incorporando essa condiçom, os nossos dias velhos acabam se fazendo também momentos dum relato, narrados dum jeito mais ou menos coerente e pulido.

Como se fosse a Terra Meia, sonhamos entom com os arrecendos doutros tempos (embora muitos os tenhamos sentido nós próprios), pensamos no feitio dos castelos no dia da sua estreia, anhoramos os carros antigos, passa-nos pola cabeça como seria o tacto do coiro nas cadeiras do Renacemento, das alfombras persas. Como se levariam as roupas dos nossos avós, a quê arrencederia o porto en Corfu, o solpor em Constantinopla, o inverno nas Ilhas de Aran daqueles tempos.

Entom, acolhemos nas maos, coleccionamos, buscamos, respectamos as relíquias que ficam de tempos pretéritos.

(Joguetes, mapas, ferramentas já inútis, livros, garrafas, caixas).

Como objectos chegados de mundos completamente alheios, como se fossem arqueologias de Tlön e nom parte dum passado que foi real embora, lembremos já nom existe.

Compartem até certo ponto a qualidade do merchandising do fantástico, criar essa comunhom com outras realidades
mas, no entanto

as antigas cousas levam um peso certo nas suas nódoas, no deterioramento inevitável, na histórias que as acompanha
o pouso enorme de saber
que aqueles tempos
já nom existem

(nom esqueçamos)

nom existem.

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