Um país em ruínas (Relíquias II)

O famoso sanatório de Cesuras, polo 2005.

Isto é umha especulaçom, mas, será Galiza o território com maior densidade de ruínas do mundo? Incluamos como ruínas aquelas vivendas baleiras que nom tenhem um uso específico ou aguardado. Os edifícios públicos sem conteúdo. Os espaços construídos que nom se empregam para nada (esses milheiros de metros quadrados em entrepisos baleiros!). Será cousa do meu olhar, mas a sensaçom é que o país está inçado de ruínas por toda a parte, e cada umha delas amosa o fracasso dum projeto (vital, político, sistémico).

Parte do meu gosto polas ruínas vem desse jeito no que explicitam as regandijas e os problemas do sistema capitalista no que vivemos. Como evidenciam o fracasso, a exclusom, os espaços mortos que som parte inevitável dele. Problemas que nem administraçom nem iniciativa privada sabem tratar, travados nas suas próprias contradições. E ao tempo, gosto o convite contínuo ao sonho que realizam, a pensar novos usos, ocupações, histórias alternativas que transcendem o ciclo vital que a normalidade é quem de conceber. O seu carácter de espaços em branco e oportunidades de resgate.

As casas tenhem sentido enquanto se habitam, depois passam a ser um símbolo doutra cousa, um elemento estético, um estorbo. Tenho a sensaçom pois de viver num país denso de significados, no que o passo do tempo e o fracasso se deixam sentir de jeito especialmente intenso. Medramos afeitos a observar o acabamento das cousas, estamos familiarizados com a diversa degradaçom dos materiais. (Muito me tem consolado a reflexom de Ergosfera sobre o tema).

Supeito que a acumulaçom do abandono por toda a contorna acaba por gerar um certo pouso vital. A sensaçom de que cómpre termos em conta esse universo de pó e cascalho para qualquer movimento. A ideiade construír umha nova casa sempre poderia ser também um projeto de restauraçom. Um negócio poderia aproveitar esse local que nunca se puxo em marcha. Há quilómetros e quilómetros quadrados de espaço por aproveitar para iniciativas musicais, lúdicas, deportivas, botelhões a cuberto, graffitis, raves, encontros amorosos, armazenagem. Neste país nom podemos morar nem viver como se nom estivessem.

O peso imenso dessas desfeitas condiciona as perspectivas, constata como afinal tudo aquilo que fagamos acabará por ser ruína. Mesmo antes da nossa própria morte. Velai a fascinaçom por ruínas quase imediatas, aquelas que som mais novas do que nós mesmos, que nem chegárom a iniciar a sua funçom: A Cidade da Cultura, as praças de desenho que criam verdim desde o minuto primeiro, as urbanizações construídas e baleiras.

Ham ser as minhas teimas herdadas que me ponhem o foco lá, fago por sentir cada vez menos esse peso, tirar a poeira, sentir menos o apelo desses lugares orfos.

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